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terça-feira, 7 de junho de 2011

A INCLUSÃO SOCIAL INICIADA PELO AFETO

Nos últimos dias, iniciei um estágio voluntário no Hospital Psiquiátrico São Pedro. A primeira vez que entrei na unidade e conheci os pacientes que iria acompanhar, confesso que angústia e medo tomaram conta de mim. Esforcei-me para arrancar aqueles sentimentos negativos. Para atingir tal expectativa, comecei a refletir acerca da precariedade na qual os pacientes se encontram. São, evidentemente, muito bem tratados pela equipe técnica composta, principalmente, por enfermeiras, estagiárias, uma psicóloga e uma fisioterapeuta que se encontram a disposição dos mesmos desde o momento em que acordam até a hora de dormir. Durante a semana, praticam hidroginástica, equoterapia, passeios pela cidade, pet terapia, entre outras atividades, além daquelas inéditas propostas pelas estagiárias diariamente. Entretanto, a precariedade se encontra no tratamento que recebem da sociedade. O próprio medo que senti de imediato traduz tal fato.

Não me refiro à questão na qual não devamos ter cuidados de prevenção com os pacientes, pois os mesmos apresentam doenças incontroláveis por eles e a qualquer momento podem fazer algum mal a alguém involuntariamente. Porém, nem por isso não são dignos de afeto. As trezentas pessoas internadas no hospital estão excluídas de uma cultura, de valores e de carinho. Passam vinte e quatro horas por dia limitados a circular apenas em um terreno que comporta o hospital e são proibidos de irem além. Alguns, é possível inferir, esqueceram como é o mundo lá fora. São, a grande maioria, idosos com idade média de trinta anos de internação. Foram muito jovens abandonados por suas famílias e, a partir de então, permanecem lá dentro, esquecidos pela sociedade.

Quem já teve a oportunidade de visitar o São Pedro acredito que saiba do que estou falando. A reforma psiquiátrica, aprovada a uma lei federal em abril de 2001 no Brasil, tem o intuito de proporcionar os direitos anteriormente perdidos por esses indivíduos. Sua prática visa à modificação gradual do tratamento clínico dos portadores de sofrimento mental, eliminando, dessa maneira, a internação em hospitais, resultando na inclusão social, trazendo-os de volta à comunidade. Entretanto, ainda há uma parcela de sujeitos que permanecem trancados em unidades sem esperança ou objetivo. Levando em conta a rotina imposta que cumprem diariamente, será que ainda são capazes de esperar algo pela vida? Será que ainda conseguem atribuir um sentido às suas vidas?

Quando se toma consciência disso, qualquer sentimento de medo ou angústia se dissolve e é a compaixão que toma conta. Qualquer gesto de carinho, qualquer toque ou dois minutos de conversa é terapêutico para eles. Uma volta pelo pátio do hospital em um dia de sol, proporcionar encontros com os demais pacientes e oferecer atividades inovadoras os propicia excessiva satisfação. O que eles mais necessitam é de extrema simplicidade: afeto. Não sei se, depois de tanto tempo, ainda seja possível proporcionar-lhes uma vida digna, longe do hospital; porém, de outras maneiras, é possível fazer algo por essas pessoas.

6 comentários:

  1. Que lindo texto!! É realmente revoltante o desperdício de vidas que acontecem dentro do São Pedro.
    As pessoas são enclausuradas e excluídas do convívio social. Obrigadas a viver por anos dentro de uma instituição como a do São Pedro, esses sujeitos sofrem um fenômeno conhecido como a institucionalização. Há relatos de pacientes os quais foram levados para o São Pedro por motivos sociais, sem portar algum tipo de transtorno, e que com o passar do tempo acabaram tornando-se também 'loucos'.
    A Reforma Psiquiátrica ainda 'engatinha'. Ainda que em longo prazo desejemos uma reforma na estrutura e nos profissionais da área da saúde mental, entendo que compartilhando atos como o descrito no post é o alcançável, ou melhor, que gera consequências mais rapidamente neste momento.

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  2. Muito legal o texto. Parabéns!
    Nos faz pensar como é natural ser apriorista, ou seja, ter uma idéia (pré)concebida das coisas e dessa forma, na maioria das vezes, ficar com uma visão irreal das mesmas. Podemos admitir que é natural mas não podemos concordar que é uma forma correta de perceber o mundo. A questão se volta então, para a necessidade de conhecer, informar-se a respeito de tudo a fim de errar menos em nossas percepções aprioristas.
    Nada como ter a própria experiência, dar chance para conhecer o "outro lado da moeda". Isso vale para tudo na vida. A distância entre a realidade e como a percebemos, pode ser muito grande.
    Essa experiência compartilhada pela autora é de extrema importância pois nos brinda com um pouco mais do real e diminui no nosso imaginário.
    Parabéns pelo Blog.

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  3. DEMAIS O TEXTO! O BLOG TA SHOW!

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  4. Tami, que lindo esse texto mesmo!
    Perfeito para nosso blog!
    Fico muito contente, primeiramente, em saber o quanto este estágio está sendo enriquecedor para você, como futura profissional da saúde. Além disso, é muito bacana tua nítida preocupação com a inclusão destes sujeitos em uma sociedade preconceituosa e excludente.
    Tenho certeza de que você fez com que eu e muitas pessoas voltassem-se para esta realidade, tendo interesse em fazer parte desta experiência e contribuir para a mudança deste triste quadro.

    Obrigada!

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  5. Primeiramente gostaríamos de dizer que o blog esta muito legal e criativo! Adoramos o plano de fundo, com diferentes fotos dando um aspecto de inclusão incrível. Sobre o texto, esta muito interessante ainda mais no curso de Psicologia, que devemos ter a esperança e acreditar que podemos propiciar, mesmo com pequenos gestos, uma grande mudança na vida dessas pessoas que estao por diversos motivos, inclausuradas no São Pedro... Acreditamos que teu medo inicial ao entrar lá é normal, mas o importante foi a reflexão que tu conseguiu fez a partir dessa experiência, e isso foi de tremenda qualidade! Parabéns pelo texto e pela proposta de mobilização para com essas pessoas, que assim como todos nós, precisam também de afeto.
    Beijos, Giovana e Clarissa.

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  6. Nossa, já disseram isso, mas muito bom mesmo o texto! A realidade dessas pessoas é realmente triste, esquecidos pela sociedade que evita ver eles, esquecidos por todos que preferem eles dentro de muros para não ter que lembrar que eles existem. É realmente muito bom entrar em contato com uma pessoa conseguir criar um sorriso no rosto dela, e melhor ainda quando tu sabe que esse sorriso é raro, que tu é uma das pessoas que faz aquele dia pra aquela pessoa ser especial, ter valido a pena. Parabéns Tamires, e continue com o bom trabalho, eles merecem pessoas de coração envolta deles.

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